O sistema escolar na Alemanha é bem diferente e curioso.
O primeiro nível, equivalente à creche e pré-escola, é o Kindergarten – que é uma palavra alemã bem famosa usada até no inglês. Não é obrigatório na Alemanha; os pais decidem se querem colocar o filho ou não. Depois vem a Grundschule: o início da escola primária, ou ensino fundamental. Dura 4 anos, geralmente dos 6 aos 10 anos de idade. Da Grundschule em diante, o ensino é obrigatório (e gratuito!) para todos.
Até aí é bem parecido com outros países. No final da Grundschule é que começa a diferenciar.
Quando a criança está quase terminando a Grundschule, por volta dos 10 anos de idade, uma decisão precisa ser tomada: qual dos 3 tipos de escola ela vai seguir. Isso é normalmente decidido pelos professores e aconselhado aos pais, com base no histórico escolar da criança.
Agora vamos aos diferentes tipos de escola: Hauptschule, Realschule e Gymnasium.
Deixando de lado os eufemismos e explicando de forma clara e direta (como os alemães fazem): a diferença entre essas 3 escolas é o nível de dificuldade e de exigência.
A Hauptschule é a escola mais fácil das três, com menos exigências aos alunos. A Realschule é a de dificuldade e exigência médias. O Gymnasium é a mais difícil, onde a exigência é a maior das três e o aluno tem que dedicar mais tempo e esforço aos estudos. No final do Gymnasium os alunos fazem uma prova chamada Abitur (ou o apelido, Abi), que seria algo parecido com o vestibular. Só pode entrar na universidade quem tiver terminado o Gymnasium e feito o Abi. O aluno que não tiver notas altas o suficiente para ingressar no Gymnasium diretamente após a escola primária ainda pode, caso o seu desempenho escolar melhore, fazer primeiro a Realschule e depois o Gymnasium, ou ainda fazer uma via mais longa de Hauptschule, depois Realschule e depois Gymnasium.
Mas e quem fez Hauptschule e/ou Realschule, sem ter feito Gymnasium e Abitur? Eles seguem para um ensino profissionalizante, ou cursos técnicos.
→ Entenda o seguinte sobre a sociedade alemã:
Na Alemanha, não é preciso necessariamente ter um diploma universitário para se ter um bom emprego com um bom salário. Isso porque existem centenas de cursos profissionalizantes (Ausbildung), que são como faculdades que preparam para todas as profissões não-acadêmicas. Por exemplo: comerciante, mecânico, cabeleireiro, designer de produtos, assistente de dentista, entre tantas outras. E todas as profissões são relativamente bem pagas. Claro que umas mais que as outras, mas a discrepância não é tão grande quanto no Brasil. O resultado disso é uma sociedade com mão-de-obra qualificada em todas as áreas, tanto de trabalhos manuais quanto intelectuais. Cada curso profissionalizante dura no mínimo 3 anos, e o aprendiz tem que passar por um treinamento teórico e prático e por avaliações para poder exercer a profissão. Enquanto no Brasil é muito comum ter que escolher um eletricista, por exemplo, por indicação dos amigos, na Alemanha em teoria pode-se confiar em qualquer um, pois todos são igualmente bem capacitados.
Então, é natural que nem todos os alemães decidam por fazer universidade – já que existem outras boas opções, em que se pode começar a trabalhar e ganhar dinheiro mais cedo. Há também quem diga que quem vai para a universidade passa anos aprendendo muita coisa teórica, mas no fim das contas não tem nenhuma experiência de trabalho e não sabe como a profissão funciona na “vida real”.
De fato, provavelmente um vendedor de loja não ganha o mesmo que um médico – mas ganha o suficiente para viver bem. Na Alemanha cada um tem a oportunidade de fazer a escolha profissional que acha melhor para si.
Argumentos prós e contras sobre o sistema educacional alemão:
- CONTRAS:
É um tanto quanto segregacionista, já que os alunos são divididos em escolas de níveis de dificuldade diferentes.
É uma forma de rotular alunos pelo seu potencial, sendo julgados pelas suas notas escolares.
As crianças são obrigadas a decidir seu futuro com apenas 10 anos de idade. São novas demais para saber o que querem fazer posteriormente.
Se uma criança da Hauptschule estivesse rodeada por colegas de classe aplicados durante o ensino médio, como os do Gymnasium, talvez isso a motivasse a estudar mais.
- PRÓS:
Esse sistema já está tão inserido na cultura alemã que eles não o veem como segregacionista. As crianças crescem sabendo que é assim, e ninguém vê maldade nisso.
Pessoas diferentes tem ritmos e interesses diferentes. Nem todo mundo é feito para ir pra universidade. Nem todo mundo está a fim de estudar pra caramba durante a escola.
Uma sociedade não é e não deve ser feita só de intelectuais, e sim de trabalhadores qualificados de todas as áreas.
Colocar todos os alunos em um só tipo de escola significaria ter que diminuir o ritmo dos alunos que estão dispostos a estudar mais por causa dos alunos que preferem seguir o rumo do ensino profissionalizante.
A decisão não é irreversível. Há mobilidade e os alunos podem mudar de ideia e trocar o tipo de escola se quiserem e se mostrarem interesse para tal.
Esse é o resumo básico dos pontos principais do sistema escolar da Alemanha. Varia um pouco a cada estado e existem algumas exceções, como por exemplo a escola que integra Hauptschule e Realschule juntas (Integrierte Sekundarschule) e a Gesamtschule.
Eu particularmente acho diversos pontos muito interessantes, mas discordo de outros. Mas em geral, esse curioso sistema escolar parece funcionar, e está fortemente relacionado ao mercado de trabalho e à sociedade alemã.